quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Entrevista

País terá de enfrentar 400 mil novos casos de câncer em 2009
A Revista Ponto Cirúrgico entrevista o Dr. Eduardo Johnson sobre as principais questões relacionadas com o Câncer. Ao abordar o assunto, o médico alerta que a melhor forma de combater à doença ainda é a prevenção

RPC – Qual a situação da doença no Brasil?
Apesar de os dados de registro de câncer no Brasil não refletirem a totalidade dos casos, são previstos para o ano de 2009 o diagnóstico de cerca de 500 mil novos casos de câncer. Se excluirmos os de pele, na sua maioria basocelulares, de baixa mortalidade, deveremos chegar próximo a 400 mil novos casos.

RPC – Quais são os problemas decorrentes disso?
O gasto com tratamento, internação e suporte é cada vez maior, principalmente nos casos mais avançados que necessitam de medicamentos de última geração, nem sempre disponíveis para a maioria da população brasileira. O investimento em prevenção e diagnóstico precoce ainda é a medida mais eficaz no controle da doença.

RPC – Quais os principais tipos de câncer no país?
Em homens, o câncer de próstata e pulmão correspondem a 30% dos casos e os de mama e colo uterino em cerca de 35% para as mulheres.

RPC – A doença já é um problema de saúde pública?
Na maioria das cidades é a segunda causa de morte, e anualmente aumenta devido ao maior controle das doenças cardiovasculares, primeira causa de morte no Brasil.

RPC – A prevenção é fundamental no combate ao câncer?
A prevenção é o método mais importante no combate ao câncer. Algumas medidas podem reduzir até em 50% a incidência de câncer. A principal é parar de fumar, pois além de reduzir o número de casos de câncer de pulmão, cabeça e pescoço, bexiga e esôfago, evita o enfisema pulmonar e as doenças cardiovasculares. A redução de bebidas alcoólicas, mudanças no padrão alimentar e evitar exposição solar também são importantes.

RPC – Nessa prevenção, os médicos recomendam algum período em que as pessoas devam recorrer a especialistas?
È fundamental que as mulheres realizem mamografia a partir dos 40 anos. Em casos com diagnóstico deste câncer em parentes de primeiro grau, deve ser realizada avaliação genética ( genes BRCA 1 e BRCA 2 ) e discutir a realização da primeira mamografia aos 35 anos. O câncer de colo de útero pode ser evitado com exames no mínimo a cada 3 anos e as pacientes entre 9 e 26 anos podem ser imunizadas contra o HPV através de vacina específica. Nos homens, a avaliação da próstata a partir dos 50 anos, acompanhada da dosagem do PSA, pode detectar lesões precoces. A pesquisa de sangue oculto nas fezes é recomendado para ambos os sexos a partir dos 50 anos. Em todos os casos a historia familiar é fundamental, pois algumas alterações genéticas levam ao aparecimento mais cedo do câncer.

RPC – E o caso da exposição ao sol? Só o sol deve despertar um pouco de cuidados, não?
Mesmo que não ocorra uma exposição direta é aconselhável o uso de filtros solares no período de 10h às 17h. As regiões com alta exposição de raios ultravioleta são particularmente perigosas para pacientes com pele clara geralmente de origem européia. A visita anual ao dermatologista pode identificar lesões escuras com indicação de remoção cirúrgica para evitar o melanoma, que pode ser curado com retirada em fase inicial, quando atinge apenas a camada mais superficial da pele.

RPC – Qual a realidade do Distrito Federal?
O DF mantém o mesmo padrão do Brasil com tumores de próstata, pulmão, mama , colo de útero e intestino grosso como mais freqüentes. Devido a alta exposição solar durante grande parte do ano, o câncer de pele é mais freqüente na nossa cidade que no resto do país. Em relação à qualidade do atendimento médico, podemos dizer que está entre as melhores do país.

RPC – O senhor acredita que ainda hoje as pessoas sofrem da desinformação sobre essa doença?
A divulgação em revistas, propaganda do governo, a internet melhorou muito o nível de informação da população. Entretanto, principalmente entre os homens, a procura por atendimento médico precoce ainda é muito baixa.

RPC - É possível ter uma vida com qualidade durante o tratamento de um câncer? Quais as principais novidades e descobertas na área da oncologia?
Os avanços no tratamento de câncer da última década foram enormes, principalmente no controle dos efeitos colaterais e na descoberta de novas drogas com perfil menos agressivo ao organismo. A qualidade de vida passou a ter tanta importância quanto o resultado do tratamento. Apenas nos casos em que existe uma chance real de cura se utiliza tratamentos com efeitos colaterais sérios, como o transplante de medula em pacientes com leucemia. Os outros casos deve-se levar em conta o beneficio e a toxicidade do tratamento. Manter a qualidade de vida, o controle da dor, a dignidade do paciente é o mínimo que o médico pode oferecer.

RPC - Qual é a duvida mais freqüente que os seus pacientes têm em relação ao câncer? E os seus familiares?
Cada paciente deve ser tratado como um ser humano único, com características diferentes, visão do mundo e sua interação social particular, assim como seus familiares. Cabe ao médico estar atento às ansiedades e dúvidas de cada família e procurar respondê-las. Nenhuma máquina substitui a relação médico-paciente.

RPC – Como preparar a família para lidar com possíveis modificações no comportamento do paciente, incluindo dificuldades físicas, emocionais e sociais?
A família é parte integrante do tratamento e do seu apoio depende muito a evolução positiva do paciente. O médico deve dar atenção aos anseios dos familiares, orientando na melhor forma de lidar com a doença que afeta o ente querido. Não se pode negar a influência de uma atitude positiva tanto do paciente quanto de sua família.

RPC- Dr. Eduardo qual a sua mensagem final para as famílias e para os pacientes que sofrem desse mal?
A oncologia é a especialidade médica com maior número de modificações no padrão de tratamento de acordo com o desenvolvimento de novas drogas e novos testes. O tratamento inicial é fundamental para o sucesso e muitas vezes à cura do paciente. É importante ouvir a opinião de especialistas e principalmente do oncologista que pode orientar a forma ideal de conduzir o caso com uma equipe multidisciplinar.


Dr. Eduardo Johnson
Oncologista

Nenhum comentário:

Postar um comentário