quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Teste da Orelhinha: quando deve ser feito e sua utilidade


O exame, que passou a ser obrigatório por lei sancionada recentemente pelo presidente Lula, detecta a deficiência auditiva desde o nascimento, possibilitando diagnóstico e tratamento precoce e prevenindo eventuais problemas e distúrbios na área da comunicação


1 - O que é o teste da orelhinha?

Dra. Marilene Oliveira - É a triagem auditiva neonatal universal. Com a sanção da lei nº 12.303 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 02 de agosto de 2010, passou a ser obrigatória a realização do exame denominado Emissões Otoacústicas Evocadas. A decisão foi publicada no Diário Oficial da União em 03 de agosto.

2 - Todo bebê está sujeito a apresentar possíveis problemas auditivos ao nascer ou adquiri-los nos primeiros anos de vida? Como marcar o teste?

Dra. Marilene Oliveira - Sim. Porque as intercorrências são pré, peri ou pós-natais. Nós primeiros anos de vida, geralmente, as crianças estão mais propícias às infecções das vias aéreas superiores, a quedas, podendo ocorrer perda da consciência e traumatismo crânio- encefálico, dentre outros. Os dados da OMS revelam que 40% das gestantes têm alguma complicação. No Brasil, 36,5% dos casos de deficiência auditiva em crianças foram associados a intercorrências durante a gestação. O teste é marcado tanto na rede privada, quanto na rede pública.

3 – Em que consiste e como é dado o resultado?

Dra. Marilene Oliveira - Consiste na técnica mais usada mundialmente e autorizada pela lei, que é o exame de Emissões Otoacústicas Evocadas/EOA. O procedimento é realizado por um fonoaudiólogo, através de um aparelho que emite estímulos acústicos de fraca intensidade, abrange uma vasta gama de frequências, o que permite a estimulação da cóclea como um todo. Com a captação do retorno do estímulo, o “eco” das emissões do aparelho registra o funcionamento da cóclea e de estruturas internas da orelha. Caso positivo, o bebê não tem perda auditiva e o resultado é dado ao término do exame. É um método objetivo, rápido, indolor, não invasivo, não tem contraindicação.

4 – Qual a sua finalidade? E que problemas podem ser prevenidos através desse exame?

Dra. Marilene Oliveira - Detectar a deficiência auditiva desde o nascimento, possibilitar o diagnóstico e tratamento precoce e prevenir eventuais problemas e distúrbios na área da comunicação como um todo. Assim, o desenvolvimento da criança poderá ser semelhante ou muito próximo de uma criança ouvinte.

5 – O teste da orelhinha tem de ser feito no mesmo dia do nascimento?

Dra. Marilene Oliveira - Não. Preferencialmente, após 24h após o parto, mas isto não quer dizer que o bebê não possa realizar o teste antes disso se puder receber alta logo no primeiro dia quando realizado na própria maternidade. De acordo com o Comitê Brasileiro sobre Perdas Auditivas na Infância, a identificação da deficiência auditiva (diagnóstico), deve ser realizada até os primeiros três meses e a intervenção iniciada até seis meses de vida.

6 – Existem fatores de riscos durante a gravidez que possam elevar o percentual de surdez do bebê?

Dra. Marilene Oliveira - Sim. As infecções congênitas, como citomegalovírus, herpes simples, rubéola, toxoplasmose, além destas, o uso de drogas, alcoolismo, tabagismo, ototóxicos, uso de abortivos, dentre outros.

7 - Todos os recém-nascidos devem fazer a triagem auditiva neonatal, mesmo que a gestação e o parto tenham ocorrido sem alterações, ou algum indicador de risco?

Dra. Marilene Oliveira - Sim, independente de qualquer fator de risco, a triagem auditiva é de extrema importância. As pesquisas apontam que, em bebês normais, a surdez varia de 1 a 3 em cada 1000 mil nascidos, e, em bebês na UTI neonatal, varia de 2 a 6 em cada 1000.

8– A observação que a família faz das reações do bebê frente aos sons pode substituir a triagem auditiva neonatal?

Dra. Marilene Oliveira - Não. Os sons que o bebê escuta na sua rotina diária, são fortes, ou seja, de alta intensidade. Os sons emitidos pelo aparelho de otoemissão são de fraca intensidade e nas frequências da fala, mas as observações que a família faz têm sua importância. A criança para aprender a falar, precisa ouvir os sons da fala, alguns são bem fracos.

9 – Se confirmada à perda auditiva, quais serão os procedimentos a serem tomados?

Dra. Marilene Oliveira - Quando o bebê falha no teste da orelhinha, o profissional deve encaminhá-lo para um serviço de diagnóstico, realização de outros exames, otorrinolaringologista. O mais importante é completar o diagnóstico antes dos três meses de idade. Se confirmado a perda auditiva, os procedimentos geralmente são a seleção e indicação de aparelho de amplificação sonora individual/AASI e terapia fonoaudiológica para o desenvovimento da linguagem.

10 – É necessário continuar avaliando a audição dele, ou se passou no teste da orelhinha não precisa mais?

Dra. Marilene Oliveira - Sim. Porque são de risco para perda adquirida, progressiva e/ ou transitória. Portanto, a avaliação audiológica e acompanhamento do desenvolvimento auditivo devem ser realizados.

11 – Além do teste da orelhinha, a audição da criança deve ser testada em alguma outra etapa da vida da criança?

Dra. Marilene Oliveira - Sim. Principalmente as crianças com risco de perda auditiva adquirida e /ou progressiva, recomendam-se reavaliações a cada seis meses durante os três primeiros anos de vida. Pesquisas já verificaram alta prevalência de perdas adquiridas com 1 ano de idade, principalmente aquelas com baixo peso ao nascimento, desconforto respiratório, displasia bronquio-pulmonar e ventilação mecânica por mais de 36 dias. O Comitê de perdas auditivas sugere ainda o acompanhamento do desenvolvimento da linguagem e da audição de todas as crianças independentemente da presença de risco para deficiência auditiva.

12 – O teste é obrigatório por lei. E porque ainda é tão difícil a realização e acesso ao teste?

Dra. Marilene Oliveira - Na rede privada não há dificuldade para realização. Essa dificuldade é encontrada geralmente na rede pública (segundo informações colhidas com os pais). Creio eu, que seja, pela falta de adaptação do sistema nos hospitais e maternidades, aquisição do equipamento, contratação de pessoal, ou seja, fonoaudiólogos e médicos para suprir a demanda.

13 – O diagnóstico após os seis meses traz prejuízos ao desenvolvimento da criança?

Dra. Marilene Oliveira - Sim. As pesquisas evidenciam que crianças com diferentes graus de deficiência auditiva, correlacionando a época da intervenção com o desenvolvimento da linguagem, observou-se que, crianças com intervenção antes dos seis meses de idade, independentemente do grau da deficiência auditiva, apresentaram desenvolvimento linguístico e cognitivo normais.

14 – É preciso algum cuidado especial para fazer o exame? Quais são os riscos para perda de audição na criança maior?

Dra. Marilene Oliveira - Sim. As orelhas, externa e média, devem estar saudáveis, a sonda deve estar adequadamente ajustada ao conduto auditivo externo, o ruído ambiental deve ser controlado, o paciente deve estar silencioso (importante considerar a respiração dos recém-nascidos, que pode ser ruidosa), preferencialmente realizar o exame com a criança em sono natural. Para as crianças maiores, geralmente as causas mais frequentes são as otites médias e suas complicações, o sarampo, a caxumba, meningite bacteriana, encefalite, drogas ototóxicas, traumas cranioencefálicos, traumas acústicos, diabetes mellitus, doenças autoimunes, otoesclerose,tumores do nervo auditivo, dentre outras.

Quais são as suas considerações finais. A Dra. gostaria de deixar alguma mensagem aos pais e os que pretende ainda ser?

É importante ressaltar que a fase de zero a cinco anos de idade é decisiva para formação psíquica do ser humano, uma vez que ocorre o ativamento das estruturas inata genético-constitucionais da personalidade, e a falta do intercâmbio auditivo-verbal, traz para o deficiente auditivo prejuízo ao seu desenvolvimento global.
Pais de crianças que não fizeram o “teste da orelhinha” devem verificar se o filho é um pouco desatento ou, já na fase escolar, se apresenta problemas de aprendizagem, notas baixas, não consegue assimilar o conteúdo ensinado, dentre outros. Ao desconfiar que o filho apresente alguma dificuldade para ouvir, os pais devem consultar logo um especialista, A partir daí, é indicado o tratamento mais adequado. Muitas vezes o uso de aparelho auditivo resolve o problema. Atualmente existem aparelhos muito discretos, específicos para criança.



Consultoria: Dra. Marilene Oliveira.
Clínica Expressão Edifício De Clínicas - Brasília/DF

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